domingo, 26 de fevereiro de 2012

A saga da mala desaparecida - parte III

Já em Portugal deixei passar uma semana, mas com a chegada do mês de Setembro comecei a bombardear a Spanair com emails. A meio de Setembro (um mês depois de terem perdido a mala!), os senhores dignaram-se a responder pedindo-me que fizesse uma espécie de inventário com tudo o que tinha na mala e o respectivo valor das coisas. E assim fiz. O valor estimado das coisas que tinha na mala ultrapassava os 800 euros (e a minha roupa era maioritariamente da H&M e Primark). Encaminhei o email para eles e esperei para ver o que é que eles me iam dizer.

Esperei quase dois meses até ser contactada novamente pela companhia. Enviaram-me um documento em que explicavam que, depois de analisarem o meu processo, tinham decidido atribuir-me um reembolso de 350 euros. Para obter esse reembolso, que chegaria num prazo de 45 dias, teria de assinar o documento que eles me enviavam junto com o email e reenviá-lo para eles. Apesar do valor ser bem inferior ao valor do conteúdo da mala - e já que não tinha seguro de viagem e seria praticamente impossível, mesmo por meios legais, conseguir que eles me atribuíssem um reembolso mais elevado - e já ciente de que nunca mais a minha mala iria aparecer - assinei o documento e enviei-o para eles. Isto no início do mês de Novembro. O mês chegou ao fim sem eu ver um cêntimo do reembolso. Tudo bem, estava a contar ter o dinheiro a tempo de comprar uma máquina fotográfica nova por altura do Natal. Certo é que também Dezembro passou sem que visse um cêntimo.

Pensei que talvez fossem 45 dias úteis e que seria esse motivo do cheque ainda não ter chegado. Entretanto, em Janeiro fiz um jantar com amigos e, a meio do jantar, um deles me pergunta se já sabia que a Spanair tinha declarado falência e se eu sempre tinha recebido o cheque. Pronto, as minhas esperanças caíram definitivamente por terra. Nem mala. Nem dinheiro.
Ainda mandei uns quantos emails à Spanair a perguntar como ficava a situação agora que a companhia tinha falido, mas nunca obtive resposta. The show must go on.

Até que chegamos ao dia de ontem. Ontem acordei tarde, já era quase hora de almoço. E fui abrir o correio que não tinha visto na sexta-feira e eis que uma carta me chamou a atenção porque era da companhia de seguros da Spanair. Abri o envelope a pensar que era uma carta a responder aos meus emails, a explicar que se a companhia estava falida também não iam ter dinheiro para me reembolsar e nisto, quando vou a desdobrar a carta, cai de lá do meio um cheque de 350 euros. Sim, o meu querido cheque! Tardou, mas chegou. Escusado será dizer que eu rejubilei só de pensar que vou, finalmente, poder comprar uma máquina fotográfica nova.

E é esta a história da mala desaparecida. Ah, entretanto, no Natal, senhor namorado ofereceu-me uma mala com as medidas mais do que correctas e com um daqueles cartões para identificação incorporados na mala. Can't wait to use it!

Enquanto escrevia esta história lembrei-me que também tenho uma muito boa (má, por acaso, mesmo má!) de quando fomos a Paris. Fica para outra altura.

Conselho de amiga: quando as companhias aéreas exigirem malas de cabine levem malas mesmo, mas mesmo minúsculas de modo a que eles não tenham por onde implicar e identifiquem-nas sempre. Vão por mim, não vá o Diabo tecê-las.

A saga da mala desaparecida - parte II

Continuando com a história... Pois que lá fui eu, sozinha e nervosa, para o tapete rolante, à espera da minha mala. Deviam ser cerca de 5h da tarde. E esperei. Eu e mais 30 pessoas. Passados uns longos 20 minutos as primeiras malas começam a aparecer e cada vez que via uma mala azul escura, da cor da minha, dava-me uma síncope nervosa que era transformada em raiva mal eu percebia que não, que aquela (também!) não era a minha mala.

As pessoas foram levantando as suas malas até só ficarmos uns quinze gatos pingados, tristes e desesperados, há uma hora à espera das suas malas. Entretanto um senhor venezuelano desse grupo de gatos pingados encontrou o balcão da Spanair e lá disseram-lhe que, por engano, algumas malas do nosso voo foram colocadas noutro tapete. E lá fomos nós feitos loucos a correr para a outra ponta do aeroporto. Alguns tiveram encontraram lá as malas, acho que o sr. venezuelano foi um deles, já eu não tive essa sorte. Eu e a maioria, para dizer a verdade. Nesta altura devíamos ser umas dez pessoas, de diferentes idades e nacionalidades, enraivecidas a ir ao balcão da Spanair apresentar uma reclamação por perda de bagagem. Eram provavelmente 18h30 por esta altura. Fui uma das últimas a apresentar a reclamação. Descrevi a minha mala que, relembro, não tinha qualquer identificação ou característica distintiva, deixei os meus dados, os meus contactos em Portugal, os contactos do hotel em Madrid e perguntei se tinha direito a algum dinheiro já que não estava no meu país e precisava de roupa. O senhor - por sinal nada simpático - que me atendeu disse que as malas em princípio estariam de volta a Barajas no dia seguinte de manhã e que eles a encaminhariam para o hotel. Indicou-me também um contacto para onde eu podia ligar se quisesse (e quis, oh se quis!).

Saí do aeroporto provavelmente já depois das 20h. Deprimida e cheia de fome. E com zero vontade de continuar as férias. [Ah, convém dizer que dentro da mala estavam algumas das minhas peças de roupa preferidas e o meu bem mais precioso - a minha máquina fotográfica (que só estava lá porque, como já disse, não contava separar-me da minha querida mala).] Ainda tivemos pela frente uma viagem de uma hora até ao centro de Madrid e depois entre esperar pelo Metro e andar à procura do hotel só chegamos ao quarto às 22h para pousar as coisas - ele, claro porque eu infelizmente não tinha nada para pousar - e depois ainda saímos para comer qualquer coisa porque desde o almoço que não comíamos nada.

O meu humor nesta altura era mais do que mau e variava entre a raiva e a tristeza profunda. Cada vez que me lembrava que podia ficar sem algumas das minhas roupas preferidas, sem a minha máquina e, pior, sem as fotografias que lá tinha (não sei porquê mas ficar sem as fotografias, sem as recordações das férias, pode parecer estúpido mas era o que mais me custava) tinha uma crise de choro incontrolável. A sério, parecia uma menina pequenina a quem tinham roubado um rebuçado.

No dia seguinte, mal acordei, a primeira coisa que fiz foi pegar no telefone e ver no site da Spanair - bendita wi-fi a que havia no quarto - o meu processo para ver se já tinham encontrado a minha mala. Nada. Passado algum tempo liguei para o tal número que me tinham dado no aeroporto. Nada. Limitaram-se a dizer-me o que já tinha visto no site.

Ora, se eu já estava preocupada comecei a ficar desesperada porque só pensava que ia ficar oito dias em Madrid e que só tinha a roupa que tinha no corpo e (graças a Deus!) a minha carteira. Comecei a fazer contas à vida e fui à Women's Secrets comprar roupa interior. Nem para comprar roupa tinha vontade... Só queria a minha roupa! Continuamos a ligar para o tal número e disseram-nos que, como estava fora do meu país, tinha direito a 50 euros - tinha de guardar os recibos de tudo para depois eles me reembolsarem (uau, nem imaginam a minha felicidade por saber que tinha 50 euros para oito dias) para bens de primeira necessidade (que para mim eram todo o conteúdo da minha mala... "se não fossem coisas necessárias não as tinha levado comigo, idiotas", pensava eu).

No dia seguinte, mal acordei, repeti o processo de ir ver qual o ponto de situação. Nada. E de cada vez que abria aquele maldito site o meu espírito de férias era completamente enxovalhado. Tanto que ao fim de algum tempo ponderamos mesmo vir embora mais cedo tal não era o meu humor. Mas pronto, não estava sozinha e não queria estragar também as férias dele por isso, e depois de irmos ao aeroporto pessoalmente tentar fazer mais alguma coisa pela mala, fomos até à Gran Vía, mais precisamente à H&M, e comprei com cerca de 15 euros, roupa suficiente para o resto dos dias. E esta foi a parte boa - quer dizer, não posso dizer que foi boa, porque esta situação não trouxe nada de bom - mas pronto, foi a única parte de ter ficado sem mala que não foi uma total porcaria. A sério que vale a pena dar um pulinho a Madrid só para ir aos saldos - comprei jumpsuits, sais, calças de ganga e tops a 5€, 3€ e 1€ (sim, um euro).

E assim se passou uma semana de férias, a tirar fotografias com o telemóvel, a dormir com t-shirts dele, e a transformar sacos da H&M em pseudo mala de viagem. Ah, e claro, com telefonemas bi-diários para a inútil linha de apoio da Spanair. No aeroporto, à vinda para Portugal, a minha mala eram dois sacos de roupa. Sad but true. Continuava sem mala e sem os 50 euros do reembolso porque para os reaver soube entretanto que tinha de enviar para uma morada em Espanha todos os recibos, juntamente com os dados do processo de extravio de bagagem.


(E a história ainda não acabou... calma, que isto tem de ser por partes!)

A saga da mala desaparecida - parte I


Andava para escrever sobre isto há uma data de tempo, mas depois lembrava-me do quão infeliz este episódio foi - esteve tão perto de arruinar por completo as férias de verão! - que acabava por perder a coragem. Pois bem, hoje é o dia de contar esta história.

Acontece que, em Agosto, aqui a menina foi fazer uma viagem com senhor seu namorado por terras de nuestros hermanos, para ser mais específica fomos até Barcelona e Madrid. Partimos do Porto rumo a Barcelona, numa viagem que começou atribulada - por pouco não ficávamos em terra (mas isso já é história para outra altura). Em Barcelona passeou-se muito, tiraram-se muitas fotografias e essas coisas espectaculares que se fazem quando se está de férias e quando a principal preocupação é decidir onde jantar ou o que visitar no dia seguinte. (Oh, férias onde andam vocês?). Adiante.

Eis que chegou o dia de voar até Madrid num voo da Spanair (sim, aquela companhia aérea que faliu recentemente). Cada um de nós levava uma daquelas malas de cabine porque neste voo não as malas não podiam ultrapassar os 10 kg. Ao fazermos o check-in eu estava algo receosa porque a minha mala, apesar de ter as dimensões permitidas, parecia ligeiramente maior do que todas as outras que eu via na fila do check-in. Fizemos o check-in, ninguém implicou com o tamanho da mala e eu suspirei de alívio.

Fizemos horas no aeroporto e, chegada a hora, fomos para a porta de embarque. Mostrar BI, entregar bilhete e seguir para o avião. E foi aqui que tudo começou realmente a "descambar". À entrada do avião a hospedeira diz-me que a mala é demasiado grande para a cabine e que tenho de a despachar para o porão. Senti um friozinho na barriga porque a mala não estava identificada (não contava separar-me dela já que se tratava de uma mala de cabine!), mas a mulher estava endiabrada e nem me deixou respingar e colocou-lhe uma daquelas fitas (frágeis, muito frágeis!) de papel e mandou a mala para o porão. E eu lá entrei no avião com a estranha sensação de que aquilo não ia correr muito bem. Era ver-me, muito cabisbaixa, a olhar pela janela enquanto a minha mala era atirada, sem dó nem piedade, para o porão.

Aterrámos em Madrid e eu só pensava em ir a correr buscar a minha mala. Voei dentro do aeroporto tão rápido que passámos o local de recolha da bagagem. Fui perguntar a uma funcionária qualquer do aeroporto de Barajas e ela indicou-me o local mas disse que senhor meu namorado não poderia ir comigo porque só eu é que tinha mala para levantar. Ele atirou uma graçola do tipo "vai lá buscar a mala antes que a percam" - diga-se que eu não achei graça nenhuma e por esta altura já só queria por-me a andar do maldito aeroporto...

(E este post já está a ficar gigante por isso vou-me ficar por aqui. Provavelmente já perceberam o que aconteceu à minha mala. Mas a história é pior do que o que imaginam. Seriously.)