Plantou um dos cadeirões da sala mesmo em frente à porta de casa. Ia ser a primeira coisa que ele ia ver mal abrisse a porta. Estava num daqueles dias em que o odiava quase tanto quanto o amava. Como era possível odiar e amar tanto alguém? Não sabia. Os anos passavam e ela continuava sem perceber. Mas estava disposta a canalizar tamanhas energias para algo positivo. Ia ser a primeira coisa que ele ia ver mal abrisse a porta. Ela, sentada no cadeirão, os olhos muito verdes sobressaíam na maquilhagem negra e os lábios vermelhos pareciam mais carnudos que nunca, no seu trench-coat bege, só com lingerie por baixo.
Estava farta do drama e das discussões, das indirectas e das chatices. Ia resolver as coisas com a sua melhor arma: a sedução.
Ninguém a podia acusar de não ser sensual. Ele não a podia acusar de não ser sensual, só o fazia porque sabia que era (mais) um duro golpe na sua auto-estima. Era linda e qualquer homem que a via ficava instantaneamente enfeitiçado. Poderia ter qualquer um, mas só o queria a ele. Ele quem nem a valorizava. Odiava-o. Odiava-o por tanto o amar.
Ouviu a chave rodar na fechadura e pensou: "que comece a brincadeira".
Sem comentários:
Enviar um comentário