domingo, 26 de fevereiro de 2012

A saga da mala desaparecida - parte II

Continuando com a história... Pois que lá fui eu, sozinha e nervosa, para o tapete rolante, à espera da minha mala. Deviam ser cerca de 5h da tarde. E esperei. Eu e mais 30 pessoas. Passados uns longos 20 minutos as primeiras malas começam a aparecer e cada vez que via uma mala azul escura, da cor da minha, dava-me uma síncope nervosa que era transformada em raiva mal eu percebia que não, que aquela (também!) não era a minha mala.

As pessoas foram levantando as suas malas até só ficarmos uns quinze gatos pingados, tristes e desesperados, há uma hora à espera das suas malas. Entretanto um senhor venezuelano desse grupo de gatos pingados encontrou o balcão da Spanair e lá disseram-lhe que, por engano, algumas malas do nosso voo foram colocadas noutro tapete. E lá fomos nós feitos loucos a correr para a outra ponta do aeroporto. Alguns tiveram encontraram lá as malas, acho que o sr. venezuelano foi um deles, já eu não tive essa sorte. Eu e a maioria, para dizer a verdade. Nesta altura devíamos ser umas dez pessoas, de diferentes idades e nacionalidades, enraivecidas a ir ao balcão da Spanair apresentar uma reclamação por perda de bagagem. Eram provavelmente 18h30 por esta altura. Fui uma das últimas a apresentar a reclamação. Descrevi a minha mala que, relembro, não tinha qualquer identificação ou característica distintiva, deixei os meus dados, os meus contactos em Portugal, os contactos do hotel em Madrid e perguntei se tinha direito a algum dinheiro já que não estava no meu país e precisava de roupa. O senhor - por sinal nada simpático - que me atendeu disse que as malas em princípio estariam de volta a Barajas no dia seguinte de manhã e que eles a encaminhariam para o hotel. Indicou-me também um contacto para onde eu podia ligar se quisesse (e quis, oh se quis!).

Saí do aeroporto provavelmente já depois das 20h. Deprimida e cheia de fome. E com zero vontade de continuar as férias. [Ah, convém dizer que dentro da mala estavam algumas das minhas peças de roupa preferidas e o meu bem mais precioso - a minha máquina fotográfica (que só estava lá porque, como já disse, não contava separar-me da minha querida mala).] Ainda tivemos pela frente uma viagem de uma hora até ao centro de Madrid e depois entre esperar pelo Metro e andar à procura do hotel só chegamos ao quarto às 22h para pousar as coisas - ele, claro porque eu infelizmente não tinha nada para pousar - e depois ainda saímos para comer qualquer coisa porque desde o almoço que não comíamos nada.

O meu humor nesta altura era mais do que mau e variava entre a raiva e a tristeza profunda. Cada vez que me lembrava que podia ficar sem algumas das minhas roupas preferidas, sem a minha máquina e, pior, sem as fotografias que lá tinha (não sei porquê mas ficar sem as fotografias, sem as recordações das férias, pode parecer estúpido mas era o que mais me custava) tinha uma crise de choro incontrolável. A sério, parecia uma menina pequenina a quem tinham roubado um rebuçado.

No dia seguinte, mal acordei, a primeira coisa que fiz foi pegar no telefone e ver no site da Spanair - bendita wi-fi a que havia no quarto - o meu processo para ver se já tinham encontrado a minha mala. Nada. Passado algum tempo liguei para o tal número que me tinham dado no aeroporto. Nada. Limitaram-se a dizer-me o que já tinha visto no site.

Ora, se eu já estava preocupada comecei a ficar desesperada porque só pensava que ia ficar oito dias em Madrid e que só tinha a roupa que tinha no corpo e (graças a Deus!) a minha carteira. Comecei a fazer contas à vida e fui à Women's Secrets comprar roupa interior. Nem para comprar roupa tinha vontade... Só queria a minha roupa! Continuamos a ligar para o tal número e disseram-nos que, como estava fora do meu país, tinha direito a 50 euros - tinha de guardar os recibos de tudo para depois eles me reembolsarem (uau, nem imaginam a minha felicidade por saber que tinha 50 euros para oito dias) para bens de primeira necessidade (que para mim eram todo o conteúdo da minha mala... "se não fossem coisas necessárias não as tinha levado comigo, idiotas", pensava eu).

No dia seguinte, mal acordei, repeti o processo de ir ver qual o ponto de situação. Nada. E de cada vez que abria aquele maldito site o meu espírito de férias era completamente enxovalhado. Tanto que ao fim de algum tempo ponderamos mesmo vir embora mais cedo tal não era o meu humor. Mas pronto, não estava sozinha e não queria estragar também as férias dele por isso, e depois de irmos ao aeroporto pessoalmente tentar fazer mais alguma coisa pela mala, fomos até à Gran Vía, mais precisamente à H&M, e comprei com cerca de 15 euros, roupa suficiente para o resto dos dias. E esta foi a parte boa - quer dizer, não posso dizer que foi boa, porque esta situação não trouxe nada de bom - mas pronto, foi a única parte de ter ficado sem mala que não foi uma total porcaria. A sério que vale a pena dar um pulinho a Madrid só para ir aos saldos - comprei jumpsuits, sais, calças de ganga e tops a 5€, 3€ e 1€ (sim, um euro).

E assim se passou uma semana de férias, a tirar fotografias com o telemóvel, a dormir com t-shirts dele, e a transformar sacos da H&M em pseudo mala de viagem. Ah, e claro, com telefonemas bi-diários para a inútil linha de apoio da Spanair. No aeroporto, à vinda para Portugal, a minha mala eram dois sacos de roupa. Sad but true. Continuava sem mala e sem os 50 euros do reembolso porque para os reaver soube entretanto que tinha de enviar para uma morada em Espanha todos os recibos, juntamente com os dados do processo de extravio de bagagem.


(E a história ainda não acabou... calma, que isto tem de ser por partes!)

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